Contra o tempo nos contratempos das ruas.
Jornalista: Zenóbio Oliveira - Reporter Cinematográfico da Inter TV Cabugi Mossoró.
Do bairro onde moro para o centro da cidade dá uma légua bem medida.
Precisava ir lá comprar um produto e voltar com certa urgência. Presumi,
baseado em cálculos mentais, que levaria meia hora, mais ou menos, para
cumprir o trajeto de carro. Meu vizinho ainda alertou-me a não botar
água pra ferver. Vai secar, ele disse. Sabia, mais do que eu, que
Mossoró é uma cidade travada.
E é mesmo, apesar de tanto se ouvir falar em mobilidade urbana.
Ao sair de casa constatei que o trânsito àquele dia tava com a bexiga taboca, como se diz lá nas Aguilhadas.
Tive que esperar um bom tempo a passagem lenta de um rebanho bovino,
visto que vaca não tem compromisso de tempo, nem respeita preferência de
via. Um semáforo, algumas lombadas, um pardal, outro pardal e uma blitz
do GETRAN parando todo mundo. Ainda bem que não tinha botado água no
fogo. Outro semáforo, mais algumas lombadas, pardal, mais pardal, outra
blitz da Polícia Rodoviária Estadual. Só estava abordando os
motociclistas, pelo menos isso.
Cheguei ao centro. Aqui é preciso cautela. Rodar devagar, parando aqui e
ali pra não atropelar ninguém. Gente demais na rua, culpa do
desnivelamento das calçadas, que parecem mais uma longa escadaria de
sobe e desce. Fico imaginando o aperreio que passa quem é cadeirante.
Sigo, paro, sigo... Mais um semáforo. Nesse um palhaço esmolambado e
triste esmola uns trocados.
Sigo, paro...
Fico esperando a manobra da carroça com seu carroceiro bruto e seu
jumentinho teimoso. Ciclistas pra cima e pra baixo violando as regras de
condução e um veículo quadrado e estranho, derivado da bicicleta, com
uma caixa de som fanhosa anunciando a promoção de PF num restaurante
inaugurado recentemente.
Sigo, paro, sigo...
A preocupação agora é encontrar uma vaga de estacionamento. No trânsito
agitadiço homens e meninos agitados agitam flanelas oferecendo um
lugarzinho imprensado a troco de uma recompensa financeira. Recuso. As
últimas moedas ficaram na mão do palhaço com cara de choro.
Arranjei uma vaguinha. Um lugar ainda não privatizado pelos
“flanelinhas” e um pouco mais distante da loja em que eu precisava ir.
Aquela previsão de meia hora já tinha ido pro beleléu.
Fazer o que?
Comprei a mercadoria e encarei o percurso de volta. Horário de pico.
Caminhões, ônibus, motos, carroças, bicicletas emprestavam à rua uma
paisagem promíscua. Busquei uma rota alternativa e peguei uma avenida
com pavimentação recente, uma das poucas que o povo da CAERN ainda não
esburacou. Cheguei em casa, até que enfim, com o dobro do tempo previsto
inicialmente e, num desabafo ensimesmado, praguejei a modo de meu avô:
Figa Diabo!
o camera
Nenhum comentário:
Postar um comentário