sábado, 1 de dezembro de 2012

Passagem do Pedro – São Sebastião – Sebastianópolis – Governador Dix-sept Rosado: Meu relicário sagrado , Por: José Romero Araújo Cardoso

Passagem do Pedro – São Sebastião – Sebastianópolis – Governador
Dix-sept Rosado: Meu relicário sagrado
 
(*) José Romero Araújo Cardoso
 
          Indubitavelmente há nítida ênfase em minha
 subjetividade à topofilia definida pelo geógrafo Yi-Fu-Tuan
 quando lembro de assuntos pertinentes ao despertar de 
identidade com a geografia humana do município norte-riograndense 
de Governador Dix-sept Rosado.
          A fixação em minha memória da preparação dos plantios de
alho e cebola às margens do rio Apodi-Mossoró, onde João Cruz possuía
propriedade encravada entre as supracitadas glebas rurais, é imagem
contida em minhas reminiscências de infância que o tempo não apaga.
          O alho teve importância econômica de destaque em Governador
Dix-sept Rosado. Quando das colheitas, as estruturas do espaço urbano
do município transformavam-se literalmente em locais de exposição de
um dos principais produtos cultivados no lugar. Milhares de tranças de
alho e cebola ficavam expostas aguardando compradores que não tardavam
em aparecer.
           A Festa do Alho era bastante concorrida, culminando na
coroação de uma rainha. Certamente nos dias de hoje apenas os mais
velhos guardam as recordações de uma época marcada pelos festejos que
assinalavam boas colheitas que resultavam em interessante poder
aquisitivo para àquelas pessoas que se dedicavam ao artesanal feitio
dos terraços com a areia do escoamento fluvial, destinados ao plantio
de alho e cebola, o qual muitas vezes era consorciado com o cultivo de
batata-doce.
          O velho trem que foi sonho de Ulrick Graf transportava alho
e cebola para todos os recantos onde passava a linha férrea. A
qualidade dos produtos fazia com que fossem disputados por exigentes
consumidores espalhados pelo país.
           Não alcancei o pleno funcionamento da extração de gipsita
nas vossorocas da Espadilha ou pedreira, como era mais conhecida a
região que abrigou a maior mina de gesso da América Latina, mas
guardei na memória as histórias que Severino Cruz Cardoso me contava
sobre o cotidiano da área de extrativismo onde a maioria das pessoas
que lá residiam tratavam-se carinhosamente por primos, tendo em vista
a origem comum destas através de vínculo genealógico com o português
Jerônimo Ribeiro Rosado.
          Nessa época, conforme relato de diversos moradores da
pedreira, era comum encontrar-se na caatinga grande quantidade de
emas, bem como porcos-do-mato. Infelizmente essas espécies estão
extintas devido à caça predatória e ao desmatamento intenso.
Recordações daqueles tempos são profusas na memória de Raimundinho de
tio Jerônimo Rosado Bandeira, pois ele viveu intensamente momentos
gloriosos que marcaram profundamente as vidas dos habitantes da
verdadeira comunidade familiar erguida sob a égide das tradições e dos
valores da paraibanidade marcante que permeou a edificação dos elos de
identidade, sobretudo àqueles referentes a Pombal (PB) e a Catolé do
Rocha (PB).
          A caprino-ovinocultura é uma atividade pecuária tradicional
em Governador Dix-sept Rosado. Tenho profunda gratidão a um eminente e
respeitado cidadão de nome Fausto Martins, de saudosa memória, pois
certa vez fez questão de separar diversas cabeças de criação de
pequeno porte visando custear no futuro algo que precisasse em meus
estudos.
          Nunca esqueci o sabor das groselhas cultivadas no quintal da
residência do casal Nô Rosado Bandeira-Penha Formiga. A casa de Dona
Santa Formiga, nora dos simpáticos pombalenses, sempre foi referência
no que tange às visitas, tendo em vista o grau de amizade que sempre
foi reverenciado, fruto da convivência e da afinidade do esposo  José
Formiga com Severino Cruz Cardoso.
          Participei de várias e inesquecíveis Festas de São
Sebastião. A residência de Lourenço Menandro Cruz localizava-se
próxima à igreja dedicada ao santo católico martirizado em razão de
sua conversão ao cristianismo. Em sentido diagonal, estava a morada de
outro paraibano conhecido por Pedro do Alecrim, amigo de longas datas
de toda família, onde sempre tive livre trânsito.
          No mercado, parada obrigatória a fim de colocar a conversa
em dia, era praxe cumprimentar Leôncio Carlos, de saudosa memória, bem
como Fernando aleijado, pois ambos foram amigos de longas datas de
Severino Cruz Cardoso. A panelada preparada por Necí tornou o
principal espaço de comercialização Dix-septiense uma referência para
todos que cultuam as tradições da culinária sertaneja.
          A prosa de Chico Bacatela, homem de caráter, justo e
honesto, sempre foi admirada por todos que o conhecem, pois em verdade
esse grande sertanejo é um verdadeiro repositório da história do
lugar.
          Sintetizo a importância de Governador Dix-sept Rosado em
minha vida através da definição de que o lugar personifica relicário
sagrado onde estão contidas lembranças marcantes de momentos felizes
ali vividos dos quais nunca hei de esquecer.
 
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.

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