segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Seca se alastra pelo Estado

O ano de 2012 não foi bom para os agricultores e criadores de gado do Rio Grande do Norte. Após uma das mais severas secas dos últimos anos, o Estado viu a produção de grãos cair, o rebanho bovino ser dizimado em algumas localidades e a oferta de água nas comunidades rurais passar a ser racionada. Um dos dados disponíveis demonstra o impacto que a estiagem trouxe para o RN: o número de cadastrados para obter o milho subsidiado pelo Governo Federal cresceu mais de quatro vezes do ano passado para 2012, segundo dados da Conab/RN. Eram 3,5 mil em dezembro de 2011. Hoje são 14,3 mil cadastrados.
Após o agravamento do problema, o poder público, incluindo o Governo Federal, estados e municípios, anunciaram uma série de medidas para ajudar a população a conviver com a estiagem. Distribuição de alimento para o rebanho, oferta de água para as comunidades rurais, construção de barragens subterrâneas e poços tubulares, entre outras iniciativas. Esses foram os principais projetos anunciados. Contudo, de acordo com o que relatam produtores do interior do Estado, a ajuda ainda não foi efetiva.

A TRIBUNA DO NORTE visitou vários municípios do RN em maio deste ano, quando os efeitos da seca começavam a se agravar. A série de matérias "Pelos caminhos da seca" mostrou o sofrimento do interior do Estado quando contava-se dois meses de estiagem. Sete meses depois, a reportagem voltou a visitar os mesmos personagens. Em todos os casos, não houve avanços significativos.

No interior do RN, rebanho não resiste e morre de sede e fome

O cotidiano de Francisco das Chagas dos Santos mudou nos últimos meses. O seu trabalho, como criador de gado e um dos líderes do Assentamento Seridó, localizado em São José do Seridó, tem uma rotina: preparar o alimento do gado, tirar o leite dos animais e se inteirar acerca da produção de seus colegas, os 63 assentados da comunidade. Não fosse a seca, os dias do Assentamento Seridó passariam sem "novidades". No entanto, a pior estiagem dos últimos anos vivenciada no Estado trouxe uma série de modificações na vida dos criadores de gado da região.
Magnus NascimentoA TRIBUNA DO NORTE voltou esta semana às cidades visitadas em maio passado. o cenário é praticamente o mesmo. Intacta, mesmo, a esperança do sertanejo.
Preparar a forragem do gado foi substituído pela espera da ração distribuída pelo Governo do Estado. A coleta do leite se manteve, mas em menor escala, tendo em vista que o número de animais diminuiu drasticamente e os que ficaram pouco dão leite. Por último, organizar a produção do assentamento passou a ter novas obrigações. Transportar cadáveres de bois e vacas até o cemitério improvisado pelos colonos, viagens ao escritório do Banco do Nordeste de Caicó para tentar financiamentos, entre outros afazeres. Francisco das Chagas e seus 62 vizinhos fazem parte de um grupo crescente no interior do Rio Grande, o grupo daqueles que dependem quase que exclusivamente da política assistencial do poder público para persistir em seu trabalho.

Hoje pelos menos 17 mil agropecuaristas do Rio Grande do Norte contam com a ajuda de instituições públicas para manter o rebanho e a produção. O número à primeira vista impõe respeito, mas se intimida diante do universo geral de produtores do Estado. Segundo dados do Idiarn, existem hoje mais de 48 mil criadores de gado registrados no Estado. Pouco mais de três mil são atendidos pela distribuição de sorgo e milho do Governo do Estado, segundo dados da Emater. Além disso, cerca de 14 mil produtores compram milho a um preço abaixo do mercado através da Conab.

Segundo os próprios atingidos, é por conta de números como esses que a situação das comunidades rurais no interior do Estado pouco mudou desde o início da estiagem. A TRIBUNA DO NORTE visitou várias cidades em maio e registrou as dificuldades encontradas por conta da seca. Francisco das Chagas foi um dos entrevistados. Sete meses depois a situação pouco mudou. "Temos menos bichos morrendo, mas isso é porque boa parte do rebanho morreu naquela época", lamenta o criador. Até dezembro cerca de 50 animais morreram no assentamento Seridó.


fonte tribuna do norte

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