Reeleita para o terceiro mandato à frente do Sindicato do Trabalhadores
em Educação do Rio Grande do Norte (Sinte), Fátima Cardoso, elege como
prioridades para os professores a melhoria salarial e a qualificação do
ensino no Rio Grande do Norte. Cardoso critica os gestores dos últimos
seis anos na área: "Temos lutado para melhorar. Os nossos gestores têm
um problema: ao se elegerem, eles têm o Estado ou o município como seus.
E isso traz problemas, porque a nossa luta por uma escola pública de
qualidade, com estrutura, equipamentos, é por uma política mais ampla".
Em entrevista, Fátima Cardoso fala sobre os rumos do Sindicato e a
crescente judicialização das greves do setor público, entre outros
assuntos.
Qual a avaliação que a senhora faz do resultado da eleição?
A avaliação é muito positiva. Mesmo com toda a oposição e a dissidência da antiga diretoria, tivemos quase 56% dos votos.
E quais as propostas para essa gestão?
É
a terceira gestão. Foram seis anos nas duas primeiras e mais três
agora. Tentamos sempre o diálogo com os gestores, é uma linha do
Sindicato. Mas na hora da luta a categoria responde prontamente, porque
gosta desse estilo. É uma categoria zelosa do que vem construindo em
termos de patrimônio material, cultural e também político. Isso porque
ninguém é neutro. Mas também não quer dizer que são partidárias. O
sindicato abriga obviamente várias pessoas de correntes partidárias. Mas
temos um programa.
Quais os principais pontos desse programa?
São
três pontos. Primeiro, a questão salarial. Não poderia ser diferente
porque somos uma categoria que está aquém da média nacional. A média
nacional para a mesma formação que nós temos é de R$ 3 mil. E a nossa
média é de R$ 1,4 mil. Por isso, não tinha como ser diferente. O segundo
eixo a ser tratado é colaborar para que a educação seja de qualidade. É
trabalhar para que consigamos outros patamares, para que nosso Estado
saia dessa lanterninha. O terceiro item é a questão do patrimônio. Nós
temos uma renda de cerca de R$ 300 mil por mês, dividida entre as 17
regionais, onde há funcionários, casas próprias ou alugadas; e 87
núcleos municipais. Essa renda é distribuída. É dessa maneira que vamos
conseguir aumentar o nosso patrimônio material. Já tem os registrado
vários avanços, compramos terrenos, casas, construímos e a nossa
perspectiva é aumentar essa patrimônio. O professor que vai a Pau dos
Ferros vai encontrar um apoio, hospedagem, tomar um banho, por exemplo.
Nós queremos ampliar isso.
Essa renda vem de onde?
Unicamente da contribuição sindical.
Quantos associados?
Temos
30 mil associados e não cobramos imposto sindical porque não
consideramos correto. A categoria é livre para se associar ou não.
Sempre há filiações, durante a campanha mesmo várias filiações foram
feitas.
Quantos professores há no total?
Cerca
de 65 mil professores no Estado e 30 mil filiados. Proporcionalmente, é
o Estado que tem um dos maiores números de filiados. É o segundo maior,
ficando atrás somente de São Paulo.
Nesses últimos seis anos, a senhora acha que a educação melhorou ou piorou? Como a senhora vê essas mudanças?
Temos
lutado para melhorar. Os nossos gestores tem um problema. Ao se
elegerem, eles têm o Estado ou o Município como seus. E isso traz
problemas, porque a nossa luta por uma escola pública de qualidade, com
estrutura, equipamentos, é por uma política mais ampla. Os planos de
ação, por exemplo. Muitos não têm. Então, não há como planejar. Nós
temos alertado, tentando contribuir com as secretarias de educação.
Desde 2000 que chamamos a atenção para os resultados do ensino médio de
Matemática e Língua Portuguesa. Nós indicamos, fazemos propostas. Mas
eles não tomam.
Como a senhora avalia o procedimento de greve do Sindicato? Os gestores costumam reclamar que não há diálogo prévio.
Não
é verdade. A cada ano e semestre, nós dizemos quais são os divisores,
as reivindicações. Quando o gestor não cumpre, a gente faz... o
professor tem uma vida muito sofrida, muito difícil. Há doenças
relacionadas ao trabalho, toda uma problemática. O Sindicato sempre quer
dialogar. Algumas vezes a categoria quer a greve mais cedo e o
Sindicato convence a dialogar. Só quando o diálogo se esgota é que a
greve acontece.
E a nova diretoria?
Muita
gente nova. Dos 28 membros, treze não estavam na gestão anterior. E um
dos motivos da dissidência é justamente essa questão do diálogo. É
natural que haja a renovação.
As greves têm sido judicializadas e algumas vezes consideradas ilegais. Como o Sindicato vê isso?
É
um atraso. A Constituição brasileira assegura esse direito. O último
parecer jurídico, com relação a Uern, foi muito contundente. Acredito
ter sido uma lição para o Governo do Estado, que não deve judicializar
os movimentos legítimos da sociedade. Nós lamentamos que essa seja a
única forma encontrada pelos gestores. Mas o Judiciário tem observado a
negligência por parte dos gestores, que empurra as categorias para a
greve.
Quais as prioridades do Sindicato este ano?
Pendências
do Governo do Estado e das prefeituras. Implementação de piso, planos
de carreira, reforma das escolas que o Governo se propôs e não fez.
Temos situações críticas, como em Ceará-Mirim, onde a direção perdeu
mais de 300 matrículas. Em Assu, o poeta Renato Caldas perdeu mais de
500 matrículas por falta de estrutura.
Fonte Tribuna do Norte
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