quinta-feira, 31 de maio de 2012

Justiça decide que greve da Uern é legal e Governo do Estado suspende salário de servidores

A greve dos servidores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) ganha força na seara judicial. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte decidiu que a paralisação é legal, contrariando pedido do Governo do Estado que solicitou a ilegalidade do movimento. A decisão é da juíza convocada Sulamita Pacheco, em substituição ao desembargador Amaury Moura Sobrinho, e foi proferida anteontem, já que não houve acordo em audiência de conciliação promovida no mesmo dia pelo TJRN entre servidores e Governo do Estado.
"A greve que hora se analisa não possui ilegalidade que se possa enxergar neste momento processual, exatamente por ser uma reação às condições de trabalho e o exercício do direito de autodefesa de categorias. Assegurar agora o direito à greve traz como consequência a segurança de uma educação mais digna", justificou.
Para a magistrada, o Estado não cuidou de maneira satisfatória de demonstrar a existência de requisitos necessários, perante a lei, para alcançar a concessão da ilegalidade. Além disso, está claro descumprimento pelo Estado do acordo assinado em setembro de 2011, de reajustar o salário do servidor em 10,65% em abril deste ano, o que não ocorreu.
O acordo, amplamente divulgado na mídia na época, inclusive no site oficial do Governo do Estado, foi a condição para o fim aos 106 dias de greve no ano passado, a maior da história do serviço público do Rio Grande do Norte. Para encerrar o movimento, o funcionalismo aceitou parcelar o reajuste em três anos. E foi o não-pagamento da primeira parcela, este ano, que motivou a nova greve, iniciada no último dia 3.
Segundo Sulamita Pacheco, é notório no Brasil que a classe dos professores vem sofrendo péssimas condições de trabalho e uma remuneração que não condiz com a importância do ensino. "Por isso mesmo, há de se reconhecer a necessidade de fortalecimento da categoria desses profissionais, base da sociedade, bem como os direitos dos docentes de reivindicar melhores condições de trabalho mais justos", disse.
A desembargadora convocada ressaltou ainda que não visualiza desrespeito ao direito constitucional, apesar da alegação do Estado de violação ao artigo 205 da Constituição Federal. "Ao contrário, ao passo que se busca respeitar o direito dos professores a uma luta por melhores condições de trabalho, o resultado é o fortalecimento da educação", argumentou.
Para embasar juridicamente a decisão, a magistrada lembrou que o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STJ), ao julgar tema semelhante, vaticinou ser o movimento grevista um instrumento legítimo e que o caráter essencial ao serviço não sugere vedação ao exercício do direito de greve.
"Posto que a essencialidade dos serviços paralisados indica, na realidade, um chamado à razão e à responsabilidade de todos os atores envolvidos, cabendo ao Judiciário zelar pelo exercício do direito à greve e não mitigá-lo. "Não vejo como o Poder Judiciário calar neste momento, este grito, que busca a efetivação de um Estado democrático livre, igualitário e justo", escreveu a juíza Sulamita Pacheco.
O presidente da Associação dos Docentes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Aduern), professor Flaubert Torquato, avaliou que a decisão da desembargadora convocada revela o discernimento dela que a greve é justa, porque o governo descumpriu o acordo firmado com as categorias. 
SEM DINHEIRO
Segundo a Aduern, anteontem à noite, após depositar os salários dos servidores na conta da Universidade, o Governo do Estado mandou suspender o pagamento apostando na decretação da ilegalidade da greve.
Em audiência com a desembargadora convocada Sulamita Pacheco, ontem pela manhã, a diretoria da Aduern foi informada que o Governo do Estado já foi intimado da decisão do Judiciário estadual sobre a legalidade da greve. "Agora, a Aduern aguarda o cumprimento da decisão judicial por parte do governo. Caso a administração descumpra, a desembargadora irá tomar as medidas cabíveis", afirma Flaubert Torquato.
Ontem à noite, a Administração Superior da Uern informou que o pagamento a docentes, técnicos-administrativos e aposentados, retido pelo Governo do Estado, deve ser liberado hoje, conforme foram informados ontem pela equipe econômica do governo o reitor Milton Marques de Medeiros e o pró-reitor de Planejamento, Severino Neto.
Estado anuncia que vai recorrer da decisão
O Governo do Estado recorrerá da decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte sobre a legalidade da greve na Uern. Segundo o consultor-geral do Estado, José Marcelo Ferreira Costa, a decisão divulgada liminarmente será analisada pelo governo, já que, apesar da greve ser considerada legal, existem algumas implicações que devem ser avaliadas, como o fato de garantir um percentual mínimo das atividades para a população, por exemplo.
O Processo nº 2012.007272-3 - que requer a suspensão imediata da greve e retorno ao trabalho de todos os servidores e professores da Uern - foi ajuizada na última sexta-feira (25) pelo Governo do Estado.
Marcelo Costa acrescenta que o Governo do Estado, por meio da governadora Rosalba Ciarlini, buscou o diálogo e procurou a negociação para encaminhar o Projeto de Lei à Assembleia Legislativa, condicionado à observância do limite prudencial previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Mas, segundo ele, as propostas foram rejeitadas, já que os professores e servidores somente aceitam o pagamento retroativo ao mês de abril de 2012. "Assim, coube ao Estado judicializar o assunto para tentar garantir que os alunos da Uern não sejam penalizados com a paralisação", justifica o consultor.
Ele diz que o Estado do Rio Grande do Norte se encontra acima do limite prudencial instituído pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o que impossibilita a concessão dos aumentos aos servidores no momento.

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