As ações para convivência com a estiagem, no interior do Rio Grande do
Norte, vão chegar tardiamente às regiões afetadas. O alerta, em
uníssono, é dos prefeitos e representantes dos 139 municípios em estado
de emergência decretado desde o último dia 12 de abril pelo Governo do
Estado (Decreto 22.637) e foi externado ontem aos representantes do
governo, na reunião promovida no Praiamar Hotel, pela Emater e
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec).
"Já temos
mortandade nas regiões do Seridó e Central, e a tendência é piorar, sem
que ações concretas tenham sido desenvolvidas para minimizar a
estiagem", afirmou o prefeito de Lajes e presidente da Federação dos
Municípios do RN (Femurn), Benes Leocádio. Ele disse que as providências
precisam ser agilizadas por parte dos órgãos estaduais "para que ações,
como o abastecimento de água e o financiamento para compra de ração,
possam chegar o mais rápido possível".
Além da criação e
regularização das Coordenadorias municipais de Proteção e Defesa Civil à
luz da nova legislação, os prefeitos e técnicos dos municípios afetados
pela estiagem discutiram com a Emater e com os técnicos da Defesa
Civil, as estratégias de ação para minimizar os efeitos da estiagem.
Apesar de ter sido aguardada no evento, a governadora Rosalba Ciarlini
não marcou presença.
Acompanhada dos secretários de Estado
Betinho Rosado (SAPE) e Gilberto Jales (SEMARH), Rosalba participou da
reunião da presidenta Dilma Rousseff com os governadores nordestinos, em
Aracaju (Sergipe), para discutir a estiagem na região. Na reunião
técnica com os prefeitos, o diretor-geral da Emater, Ronaldo Cruz, que
representou o governo anunciou, na plenária final, que a governadora
estava encaminhando à presidenta Dilma propostas de apoio imediato para
poder ampliar o atendimento à população.
O governo quer
agilidade para ampliar a oferta de água, com obras hídricas
complementares a outras que já existem, e sugeriu a criação da
emergência-cartão estiagem dos municípios e Estado.
A informação
acalmou os prefeitos, mas não atenuou as cobranças. Para o prefeito de
Jardim de Angicos, Agnelo Bandeira, as propostas precisam sair do campo
teórico. "Aqui hoje", disse ele, "foi muita conversa, mas o governo
precisa agilizar as ações, tirá-las do papel para a prática".
O
prefeito Gilvan Inácio, de Pedra Preta, afirmou que já fez a locação de
dois caminhões-pipa, com recursos do executivo municipal, para o
transporte de água dos açudes da região para as comunidades mais
afetadas. "Mas é uma situação", disse ele, "que não podemos sustentar
por muito tempo.As prefeituras não tem recursos financeiros".
No
RN, 72 municípios, dos 139 em estado de emergência, já estavam sendo
abastecidos por carro-pipa, até o último dia 07 de abril, quando o
serviço foi suspenso. Ontem, os prefeitos cobraram uma resposta da
Defesa Civil e do Exército. O coordenador da Defesa Civil,
tenente-coronel Josenildo Acioli Bento, explicou que o Exército aguarda
liberação de recursos do governo federal para a contratação de
'pipeiros' e a retomada da operação pipa.
A avaliação da Fetarn é
de que 100% do plantio de regime de economia familiar "está perdido" em
virtude da escassez de chuvas, sobretudo nas regiões de sequeiro.
Municípios têm que se adequar às novas exigências legaisDos
167 municípios do RN, apenas 37 possuem Coordenadorias Municipais de
Defesa Civil, e mesmo assim elas precisam ser atualizadas para adequação
à nova lei. Até agora, apenas um município, o de Jucurutu, entre os 139
incluídos no decreto de emergência do governo estadual, teve a situação
de emergência reconhecida pelo Governo Federal.
O
reconhecimento federal da emergência em Jucurutu, segundo o prefeito
Nelson Queiroz Filho, saiu agora em abril e permite ao município ter
acesso a recursos federais e ao Cartão de Pagamento de Defesa Civil
(CPDC). Segundo ele, a água dos reservatórios localizados no município
já está imprópria para o consumo humano.
O prefeito pleiteia
verba da ordem de R$ 10,5 milhões para sustentar todas as ações para
amenizar os efeitos da estiagem no município, principalmente, o
abastecimento de água. Segundo ele, 9 mil pessoas da zona rural estão
afetadas pela estiagem. O município tem 20 mil habitantes.
Ontem,
a Emater e a Cedec realizaram nove oficinas técnicas com objetivo de
prestar assessoramento aos prefeitos quando à criação e regularização
das coordenadorias municipais de Defesa Civil.
Segundo o
tenente-coronel da Policia Militar, Josenildo Acioli, coordenador
estadual da Defesa Civil, "os recursos federais só virão caso o
município tenha a sua Defesa Civil criada por lei e tenha também o
cartão pagamento Defesa Civil". Ele ressaltou que o Cartão Pagamento
Defesa Civil é um cartão de débito que somente pode ser usado na
assistência, restabelecimento e para o socorro.
É possível, por
exemplo, citou o coordenador, comprar alimentos e medicamentos, "desde
que o uso esteja comprovadamente relacionado à estiagem". No caso do
reconhecimento da situação de emergência, os municípios precisam fazer
dois caminhos: encaminhar o pedido de reconhecimento estadual para a
CEDEC e de reconhecimento federal direto para a Secretaria Nacional de
Defesa Civil. O acesso ao Cartão-Pagamento se dá mediante o
reconhecimento federal, com a devida criação dos órgãos de Proteção e
Defesa Civil, que deverão ter CNPJ próprio.