quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cientista político vê risco de isolamento do governo

O cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Antonio Spinelli, considera que a indicação de José Anselmo Carvalho para a Secretaria do Gabinete Civil mostra o isolamento do governo Rosalba Ciarlini. "Embora ela tenha hoje dois dos principais grupos políticos do Estado (PMDB e DEM) como aliados, preferiu nomear para uma secretaria chave uma pessoa que não tem atuação política e é conhecida apenas em Mossoró", destacou, referindo-se à nomeação de Anselmo Carvalho para o cargo de secretário-chefe do Gabinete Civil.
Para o professor da UFRN, o mais significativo reflexo do rompimento do vice-governador Robinson Faria (PSD) com a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) foi a saída de Paulo de Tarso Fernandes do cargo no Gabinete Civil. "Ele (Paulo de Tarso) era um 'supersecretário', coordenava a política interna do governo. Era um homem que tinha autoridade, reconhecidamente um jurista competente e com experiência de articulação", comentou o cientista político.

Antonio Spinelli observou que o problema não foi a "solução caseira" encontrada pela governadora Rosalba Ciarlini, já que Anselmo Carvalho estava entre os secretários quando ela exercia o mandato de prefeita, mas o fato de que ele não é conhecido e tem pouca experiência política.

"Paulo de Tarso dava unidade ao governo. A perda foi grande. Aparentemente o novo secretário, além de não ter experiência política não tem a autoridade que tinha Paulo de Tarso", avaliou Antonio Spinelli.

O cientista político chama atenção ainda para o fato de que a nomeação de Anselmo indica o enfraquecimento da gestão. "A governadora não se sente segura, prova é que optou por uma solução caseira. Se ela tem um arco de aliança política que dá sustentação, o que se esperava era que ouvisse mais os aliados. Com essa indicação, ela se isola um pouco politicamente", destacou.

Antonio Spinelli ponderou que uma alternativa da governadora seria assumir a coordenação política da gestão. "Seria uma alternativa ela assumir essa função de coordenação política. Como chefe do Executivo, teria mais autoridade do que o atual chefe da Casa Civil", disse o professor, lembrando que era do secretário Paulo de Tarso Fernandes a responsabilidade de coordenar as demais secretarias de governo.

O professor lembrou que as mudanças em pastas chaves do governo ocorre, exatamente, em um momento de crise financeira e  diversas greves do funcionalismo em andamento.

"As áreas de saúde, educação e segurança, que são chaves, têm problemas grave e muito sérios. O Estado se endivida pelos compromissos assumidos para a Copa. Essa solução (de José Anselmo Carvalho) pode agravar a própria situação", completou.

Oposição aponta falta de diálogo

A ex-governadora Wilma de Faria avalia que as escolhas feitas para as substituições na equipe de auxiliares diretos da governadora Rosalba Ciarlini indicam que a atual administração está "cada vem mais se fechando". Para Wilma de Faria, as nomeações confirmam uma tendência "autocrática" do governo. "As mudanças são para colocar pessoas ligadas politicamente (ao grupo da governadora). Isso significa um poder de mando maior", comentou Wilma de Faria, durante entrevista ontem à rádio 96 FM.
Wilma de Faria afirmou que as dificuldades de articulação do governo ficaram patentes também no episódio do rompimento do vice-governador Robinson Faria (PSD). "Faltou diálogo. A governadora não conversou com o vice. Ela poderia ter chamado Robinson e falado sobre o PSD e os problemas que o partido criaria para o grupo dela, para o DEM", comentou.

O deputado estadual José Dias (PSD), durante entrevista à rádio 98 FM, evitou fazer críticas diretas às escolhas para o secretariado. Disse que não conhece bem os dois escolhidos, José Anselmo, para o Gabinete Civil, e Gilberto Jales, para Secretaria de Recursos Hídricos. Mas ele chamou atenção para o papel político e gerencial que deverá ser desempenhado na Semarh e a articulação política feita pelo Gabinete Civil.

"Se têm competência eu não sei, mas são pessoas com menos experiência no trato de uma política mais ampla. A Casa Civil precisa ser uma pessoa com competência para tratar administrativa", comentou, acrescentando que Recursos Hídricos exige capacidade gerencial. "A Secretaria (de Recursos Hídricos) indiscutivelmente tem um bom corpo técnico, experiente", completou.

O ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo, presidente estadual do PDT, foi cauteloso ao avaliar as escolhas feitas pela governadora Rosalba Ciarlini na reforma do secretariado. "Foi uma opção (o nome de José Anselmo Carvalho para secretaria chefe do Gabinete Civil) pessoal. A gente só saberá se foi uma escolha certa a partir do desempenho dele", destacou.

Para Getúlio, Rosalba tem autonomia

O líder do governo na Assembleia, Getúlio Rego, afirma que a governadora Rosalba Ciarlini tem autonomia para fazer as escolhas sobre os rumos da administração e a nomeação dos auxiliares. "Nunca tomei conhecimento pessoal de que as decisões são determinadas por Carlos Augusto (ex-deputado estadual e marido da governadora). Ela é que tem a decisão", comentou.

O deputado do DEM, no entanto, admitiu que  não é possível negar que ele exerça algum tipo de influência, embora a decisão final seja uma atribuição de Rosalba Ciarlini. "Negar que ele tem influência nas decisões é tapar o sol com a peneira. Ela tem autonomia política, experiência, e um parceiro que a ajuda muito no campo político e nas conquistas da vida pública do Estado", disse o deputado, durante entrevista à rádio 98 FM.

Para o presidente da Assembleia Legislativa (AL), deputado Ricardo Motta (PMN), que participou da cerimônia de posse do novo chefe do Gabinete Civil e do consultor-geral do Estado, as discussões sobre a crise política no governo estão superadas e agora "é olhar para a frente"

Ele endereçou palavras de apoio à governadora Rosalba Ciarlini quando destacou que o legislativo "torce e tem convicção do sucesso de todos e do grande desenvolvimento pelo qual passa o Rio Grande do Norte". Ricardo Motta afirmou que a AL é "uma colaboradora" e que os secretários podem contar com o poder institucional dos parlamentares.

Após o discurso de Ricardo Motta, Rosalba Ciarlini destacou que a parceria do Governo com a Assembleia Legislativa é fundamental e "insubstituível". Até pouco tempo, Ricardo Motta era  liderado do vice-governador Robinson Faria, rompido recentemente com o grupo que comanda o Estado.

tribuna do norte

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