Mossoró - Na manhã de sexta-feira (9) havia quatro pacientes na fila por cirurgia na unidade de emergência/urgência do Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), em Mossoró. Cenas assim não ocorrem somente nas cidades de pequeno e médio porte da região Nordeste, mas também é comum no Norte e no Centro-Oeste do país, o que não acontece nas regiões Sul e Sudeste, onde a concentração de médicos por habitantes é bem maior. Esse cenário ficou evidenciado em pesquisa elaborada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP). O trabalho recebeu o nome de Demografia Médica no Brasil (veja quadro) e tem como objetivo orientar os governos a desenvolver políticas públicas para melhorar os serviços médicos no país.
O doutor em Ciências Mário Scheffer, que conduziu a pesquisa, diz que o trabalho traçou um diagnóstico lógico indicando as fragilidades dos serviços médicos, que devem ser combatidas de forma pontual pelo governo. "Atualmente, a maioria dos médicos tem vínculos públicos e privados, cumprem carga horária de trabalho excessiva e acumulam vários empregos. A jornada de trabalho dos médicos é, em média, superior a 50 horas semanais e quase um terço dos profissionais trabalha mais de 60 horas por semana", escreveu.
Os médicos atuam em média em três diferentes postos de trabalho, sendo que mais de 30% acumulam quatro ou mais locais. Esse cenário de concentração de profissionais nas capitais representa um massacre aos pacientes do interior dos Estados, como os quatro pacientes que precisavam de cirurgia na manhã de sexta-feira no HRTM, socorridos depois que um dos nove profissionais da cidade se dispôs a ajudar.
Faltam médicos em Mossoró e estrutura em Natal
No Rio Grande do Norte, o cenário é de horror nos hospitais públicos de Natal e do interior, em especial o Hospital Walfredo Gurgel e Hospital Regional Tarcísio Maia, sendo que este último está em situação melhor. Não tem pacientes nos corredores. O que ocorre no RN, além da falta de médicos especialistas conforme aponta na pesquisa Demográfica Médica no Brasil, é uma quebra na cadeia de serviços de saúde pública prestados tanto na capital como no interior.
As unidades de emergência-urgência estão funcionando relativamente bem, apesar da falta de profissionais para socorrer, por exemplo, vítimas de acidentes de trânsito. Entretanto, o paciente ortopédico (acidentes), depois do quadro estabilizado nestas unidades, não tem onde complementar o tratamento. Para esvaziar os hospitais como HRTM e HWG, conforme os profissionais do Conselho Estadual de Saúde, seria necessário o Estado construir hospitais de clínica cirúrgica.
Neste sentido, o governo do Estado, através da Secretaria Estadual de Saúde, tem projeto para construir hospital na Zona Norte de Natal. Para o interior, o secretário Domício Arruda destacou os investimentos para complementar a escala médica dos hospitais regionais de Pau dos Ferros, Apodi, Caraúbas, Caicó e Assu, como forma de reduzir a demanda de atendimento tanto no HRTM como no HWG. "Considerando a população da região, precisamos ter pelo menos 350 médicos e só temos no maximo 250", diz Ney Robson, diretor do HRTM.
Outra quebra de serviço de saúde consta na área de pediatria. A Prefeitura de Mossoró, conforme o secretário Francisco Carlos, da Cidadania, investe quase 25% do orçamento municipal em saúde pública. Destaca as Unidades Básicas de Saúde dos bairros e principalmente as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). "Também temos vários programas funcionando em áreas específicas para atender ao cidadão", diz Francisco Carlos. Entretanto, na área de emergência urgência, Mossoró não tem leito de UTI pediátrica.
Para corrigir esta distorção, o secretário Domício Arruda, informa que deverá ser inaugurada nos próximos meses uma unidade hospitalar em Mossoró com seis leitos de UTI pediátrica. É pouco. A meta do Governo é construir um Hospital Materno Infantil em Mossoró para funcionar agregado à Universidade estadual (UERN).
As especialidades mais carentes em Mossoró são anestesista, pediatra e ortopedista. Mas não era para ser assim se houvesse uma distribuição uniforme dos profissionais existentes no RN. Existem 103 anestesistas no Rio Grande do Norte, porém apenas 11 em Mossoró, profissionais suficientes para atender 70% da demanda do HRTM. Existem 56 ortopedistas e apenas 11 em Mossoró. E existem 197 pediatras e apenas 12 em Mossoró.
Neste caso, o problema será solucionado, segundo o diretor técnico do HRTM, Diego Dantas, quando o Governo do Estado encontrar um caminho legal para pagar plantões extras aos médicos que já estão em Mossoró. O secretário Domício Arruda disse que o caminho já foi definido. O Estado vai repassar (já repassou) os recursos para a Prefeitura de Mossoró, que por sua vez vai pagar os plantões extras aos médicos (ainda nesta semana) que já são contratados do Governo do Estado.
A saída em definitivo, conforme o diretor do HRTM, é os governos adotarem políticas de incentivo aos médicos que estão nas capitais para atuar no interior. "De repente não é muito atraente para um pediatra exercer sua profissão em Mossoró, onde, por exemplo, não tem nenhum leito de UTI infantil. É neste sentido que o Governo do Estado já está projetando a construção de um hospital infantil com tudo que Mossoró merece", diz Ney Robson.
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