O túnel de cerca de 5 km de comprimento vai servir para escoar a água da chuva de bairros da zonas Sul e Oeste de Natal, incluindo a área onde está sendo construída a Arena Dunas, que receberá jogos da Copa de 2014. Por isso, a construção do sistema de drenagem é considerada pela Prefeitura de Natal como de extrema importância e urgente. Tão urgente que o município resolveu utilizar um RAS (Relatório Ambiental Simplificado) para avaliar mais rapidamente possíveis impactos ao meio ambiente que podem ser causados pelo túnel.
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A falta dos estudos mais consistentes foi detectada pelo MP-RN (Ministério Púbico do Rio Grande do Norte) no final do ano passado. Um grupo de promotores encarregados de acompanhar as obras relacionadas à Copa de 2014 no estado abriu em novembro uma investigação para apurar por que a prefeitura não tinha os estudos necessários para a obra e por que o Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte) não os exigiu.
Essa investigação resultou em uma ação civil pública aberta pelo MP-RN em dezembro. Nela, os promotores do estado processam a administração municipal e o órgão ambiental do estado. Além disso, pedem a cassação imediata dos alvarás que autorizam a construção do túnel de drenagem.
“Nenhum prazo curto ou grande evento justifica o descumprimento das leis”, disse Diógenes, em entrevista ao UOL Esporte. “Parece que a prefeitura quer usar a Copa do Mundo como desculpa para tocar uma obra de risco sem os estudos necessários sobre os impactos ambientais.”
De acordo com o promotor, a obra de drenagem pode ser muito prejudicial ao Rio Potengi. O túnel vai interligar lagoas formadas por água chuva fazendo com que essa água escoe para o rio. A água dessas lagoas, porém, estão frequentemente contaminadas por esgoto despejado clandestinamente pela população. Caso o túnel seja construído, esse esgoto tende a acabar no Rio Potengi e, depois, nas praias de Natal.
“Há uma série de questões que só podem ser resolvidas com estudos mais consistentes”, complementou o Diógenes. “O esgoto nas lagoas pode acabar nas praias e ainda causar problemas para plantas e animais do Rio Potengi.”
O Potengi é o principal do Rio Grande do Norte. Os primeiros portugueses que chegaram ao que hoje é a cidade de Natal o chamaram de Rio Grande e isso, mais tarde, foi usado inclusive para batizar o estado potigar. Passeios de barco no Potengi durante o pôr do sol são algumas das atrações turísticas do estado. O manguezal na foz do Potengi também é área de preservação ambiental incluída no Parque Estadual dos Mangues, criado em 2006.
O secretário de Obras e Infraestrutura de Natal, Sérgio Pinheiro, disse que a Prefeitura de Natal está ciente dos riscos ambientais da obra e realizou todos os estudos recomendados pelo Idema para dar andamento ao projeto. “A prefeitura seguiu o que mandou o Idema”, disse o secretário. “A obra é considerada de baixo impacto e por isso não foi necessário o EIA e Rima.”
Pinheiro afirmou também que espera que a Justiça entenda a urgência da obra para que ela possa seguir com seu o cronograma. “Ainda não sabemos exatamente do que trata a ação, mas esperamos bom senso do Judiciário. A prefeitura tem uma preocupação porque já assumiu compromissos.”
Segundo o secretário, a licitação para a construção do túnel está em fase final de preparação. Ela deve ser aberta na semana que vem e a obra deve começar em 90 dias se a Justiça não embargá-la. A Caixa Econômica Federal deve financiá-la, já que a obra foi incluída no PAC 2.
Já o Idema, que também é réu na ação do MP-RN, disse que todos os estudos mais completos sobre o túnel já foram realizados. A obra, informou o órgão, faz parte de um plano de drenagem para toda a cidade de Natal. Segundo o Idema, esse plano foi amplamente estudado e seus impactos avaliados. Para o Idema, realizar uma nova análise específica sobre o túnel seria redundante.
A Justiça do Rio Grande do Norte informou que o Idema e a Prefeitura foram notificados nesta terça-feira sobre a ação do MP-RN. Foram também intimados a prestar esclarecimentos sobre os questionamentos dos promotores. Os depoimentos devem ser tomados até sexta-feira. Até lá, a Justiça não deve decidir sobre a cassação das licenças da obra e o projeto do túnel segue em andamento.
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