domingo, 4 de março de 2012

Três mil professores esperam promoções

Para ascender na carreira, todo profissional precisa se qualificar. Os objetivos são óbvios: ganhar mais experiência e, claro, obter aumento de salário. O problema é quando o servidor se sacrifica e não vê o reconhecimento de seu esforço. No Estado, mais de três mil professores da rede básica de ensino estão nessa situação. Alguns aguardam a promoção há tanto tempo que perderam a conta.
O dado exato, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte (SINTE/RN), é que 3.200 profissionais se especializaram e não tiveram qualquer benefício, embora em visita a Pau dos Ferros a secretária de Educação do Estado, Betânia Ramalho, tenha dito que esse número chega a 3.500.
A professora apodiense Joelina da Silva Góis é uma das que está nesta lista. Há 12 anos no Estado, desde 2006, ela espera receber como especialista. Para Joelina, essa demora é um desrespeito com o profissional que investe na formação. "A gente se sente desmotivada para fazer outra graduação", disse.
Júnior Oliveira, também de Apodi, deu entrada no processo há um ano, depois que terminou a especialização em Educação Física. Com dois vínculos no Estado (12 anos em um e 6 em outro), aguarda, sem prazo, alcançar o nível 4 e ver seu salário crescer 5%. Porém, como o seu processo não foi publicado, ele acredita estar fora da lista dos três mil que esperam a promoção.
Junior está fazendo sua segunda pós-graduação, mas alerta que, se o profissional for se qualificar pela questão salarial, não vale a pena. Além da promoção vertical, o professor reclama a falta de cumprimento da promoção horizontal. De acordo com o plano da carreira, a cada dois anos o servidor muda de letra, seguindo uma escala que vai da letra "a" a "j". Junior ainda está na "b", quando, pelo tempo de serviço, deveria estar na "f". Isso significa uma perda de 5% no salário a cada etapa.
O professor Milton Urbano, de Pau dos Ferros, é outro que reclama o prejuízo. Com 33 anos de trabalho, há pelo menos 10 deveria estar na letra "j", última do quadro de promoções, mas nunca passou da letra "i".

GREVE
Na semana passada, os dirigentes do Sinte voltaram a falar em greve, caso o governo não agilize o reajuste de 22% do piso dos servidores, como determinou o MEC. A outra pauta é justamente o cumprimento das promoções vertical e horizontal. Em assembleia foi decidido que, mesmo que o governo acerte os salários, ainda terá de sentar para discutir esse outro assunto.
Falta de incentivo provoca
desestímulo dos servidores
No governo anterior, mais de 12 mil pessoas conseguiram a promoção, recebendo melhoria nos salários que variaram de 20% a 80%. Desses, uma grande parte recebia pouco mais de um salário mínimo. Os aposentados também se beneficiaram da medida.
Contudo, Milton Urbano, representante do Sindicato do dos Trabalhadores em Educação (SINTE - regional de Pau dos Ferros), explica que esse não é um problema pontual do atual governo. "Se os governos viessem mantendo tudo regularizado, não teríamos mais esse problema", enfatizou.
De acordo com a dirigente estadual do Sinte, Fátima Cardoso, existem recursos oriundos de verbas destinadas à educação para esses fins, mas falta uma atuação mais enérgica do Conselho do Fundeb.
A dirigente alerta para uma coisa muito séria. Segundo ela, a falta de incentivos na educação do Estado vem provocando, há muitos anos, um alto grau de desistência e desinteresse. "Muitos colegas ficam sem perspectiva", disse.
Diante disso, Fátima diz ter receio do futuro. A preocupação é que a juventude que está entrando perca a expectativa com esse emprego. "Ele não aguenta o que a gente aguenta há tanto tempo", sugeriu.
Outra revelação preocupante do Sinte é que o Estado praticamente não possui doutores em seu quadro de funcionários na Educação. "Deve ter uns três", revelou Fátima.
Com um salário-base de R$ 2 mil, nenhum servidor com essa qualificação fica no quadro funcional. "O Ministério da Educação deveria aproveitar esses profissionais para capacitar os demais professores da rede básica", sugere.

AFASTAMENTO
Não é apenas a demora na liberação das promoções que desanima os profissionais da educação. Outro grande problema é a dificuldade que o professor tem para conseguir afastamento para se qualificar. De acordo com o sindicato, a média de liberação de professores é de dois anos, o tempo de um mestrado. "Geralmente isso demora o tempo da qualificação", realça Fátima Cardoso. "Quando o profissional é importante para a instituição, esse afastamento acontece à revelia, ou seja, é dado pela própria escola", completa.

QUALIFICAÇÃO OFICIAL
O Ministério da Educação ainda não oferece possibilidade de qualificação em pós-graduação. Por enquanto, o órgão só oferece primeira e segunda graduação, para adequar os servidores ao regime de trabalho. Esse serviço é ofertado através dos polos da Universidade Aberta do Brasil (UAB) ou em outras instituições de ensino superior.

BASTIDORES
Para construir essa matéria, realizei várias ligações para muitos professores da rede estadual em diversos municípios. Embora o problema das promoções afete um número muito alto de professores, não foi fácil conseguir os personagens citados. A maioria se recusou a falar, sobretudo os que tinham algum outro vínculo junto a instituição escolar ou representação da Secretaria Estadual de Educação.
O mais interessante é que não se trata de uma imposição institucional, mas cultural dos próprios servidores, que preferem não se expor, contradizendo a própria liberdade de expressão. A recusa mais incomum foi a de um secretário municipal, que achou inconveniente dar uma opinião para não se indispor com o grupo ao qual está ligado.

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